quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Natálias também choram ou Camelos


Acontece numa sala quadrada com alguns balcões de metal e uma porta de entrada semelhante à porta de refrigerador de frigorífico.
Ao som do terceiro sinal um ser humano entra e é conduzido (não por uma pessoa, mas por uma lógica) até o primeiro balcão.

No primeiro encontra-se uma Natália, sentada num balcão meio alto, visto que seus pés balançam bem longe do chão. Ao seu lado, um camelo cavuca embaixo das unhas dos pés até começar a tirar a pele (não no contexto de quem rói unha, mas no de quem estuda anatomia). Primeiro, no pé direito, é arrancada, dedo por dedo até acabar a sola do pé, em seguida a parte frontal, e ambos chegam ao tornozelo. A partir daí, uma lenta subida até a coxa termina o serviço. No membro esquerdo, tudo acontece em um segundo (tempo em que nascem 4,3 crianças no mundo). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores vermelhos, esponjosos e úmidos.

E logicamente inicia-se a atividade no segundo balcão, onde encontra-se outra Natália em pé, em cima, em posição anatômica. Ao seu lado, outro camelo cavuca embaixo das unhas das mãos até começar a tirar a pele (não no contexto de quem rói unha, mas no de quem estuda anatomia). Primeiro na mão direita, é arrancada dedo por dedo até acabar a palma da mão, em seguida a parte dorsal, e ambos chegam ao punho. A partir daí, uma lenta subida até o ombro termina o serviço. No membro esquerdo tudo acontece em menos de um segundo (tempo que aqueles métodos de beleza levam para tirar os pêlos das pessoas). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores logicamente explicados e agora membros superiores vermelhos, esponjosos e mais úmidos.

E logicamente inicia-se a atividade no terceiro balcão, onde encontra-se outra Natália deitada com as costas em contato com a mesa. Também em cima da mesa, outro camelo cavuca a região dos ombros até começar a tirar a pele (não no contexto de conhecidos tratamentos de beleza, mas no de quem estuda anatomia). Uma única camada é tirada até a altura dos bicos dos seios. A partir daí, é rapidamente puxada até a área perínea em décimos de segundo (tempo que um corpo de peso padrão leva para chegar ao chão em uma queda livre de 5 metros). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores e superiores logicamente explicados, e agora peitos, barriga e púbis vermelhos, esponjosos e molhados.

E logicamente inicia-se a atividade no quarto balcão, onde encontra-se outra Natália deitada com a barriga em contato com a mesa. Também em cima da mesa, outro camelo cavuca a região perínea até começar a tirar a pele (não no contexto de quem passou muitas horas exposto ao sol, mas no de quem estuda anatomia). Uma única camada é tirada, até a metade das ancas. A partir daí, é rapidamente puxada até os ombros, em centésimos de segundo (tempo que um gafanhoto adulto permanece em vôo, saltando 0,5 metros com um ângulo de lançamento de 45°, desprezando a resistência do ar e a força de sustentação aerodinâmica). E lá está Natália e sua bi coloração. Com seus membros inferiores, superiores, peitos, barriga e púbis logicamente explicados e agora ancas e costas vermelhas, esponjosas e encharcadas.

E logicamente inicia-se a atividade no quinto balcão, onde encontra-se outra Natália com as costas na mesa e a cabeça caída em direção ao chão. No chão, outro camelo cavuca a região do pescoço até começar a tirar a pele (não no contexto que melhor lhe convier, mas no de quem estuda anatomia). Uma única camada é tirada até a altura do início do crânio. A partir daí... NÃO!! Definitivamente não é possível que camelos possam tirar a pele da cabeça de alguém!! Como ficaria? Tudo vermelho, esponjoso, transbordando? E quanto tempo levaria? Milésimos de segundo, tempo em que ocorre uma descarga elétrica?! Não... Não pode ser! Inaceitável! Desumano!!
E nesse instante a baba do camelo respinga no chão e, num movimento de repugnância, escorrego, bato a cabeça e morro.

Natália
Mendonça

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