sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Morte

Será que consigo? Para mim o fato morte ainda é inaceitável. Até então não encontrei a crença que me ajude a superar esse pavor e me convença que realmente existe a luz no fim do túnel. Passo a partir de agora, refletir com muita estranheza sobre tal assunto, me colocar diante dela, enfrentá-la, me despir de tudo que sou, ter remorsos, angústias, sentimentos dolorosos, depressão, fragilidade e insegurança. Observo minha mente. Busco imagens racionais do momente que antecede a morte, com a imaginação lúcida, descrevo um caso real, tentando entender o sofrimento que passam mais de dez milhões de pessoas por ano no mundo, onde cerca de 50% dessas, morrem.
No ano passado, fui buscar o resultado de um exame, desses de rotina. Descobri que tenho um tumor malígno. durante seis meses fiz várias sessões de quimioterapia que ajudaram a reduzir bastante o tamanho desse tumor, isso era o que dizia o médico depois de vários exames, e disse ainda que com uma cirurgia o caso estaria encerrado.
Chegado o dia, não pude ver nada, pois me fizeram dormir. Acordei já num quanrto com o médico a me falar com muita franqueza:
_Olha! Durante a cirurgia podemos observar a situação e vimos que já era tarde demais, o tumor se espalhou por todos os orgãos em sua volta. Não há nada que possa ser feito! Eu lamento muito!
Ainda meia alucinada com os sedativos, fingi não ter entendido aquilo, mas as palavras começaram a fazer sentido e a única coisa que consegui concluir era que meu fim estava próximo.
Por que eu? Por que assim? Não quero agora! Alguém me ajuda! Não existe remédio? Tratamento?
Pai! Mãe! Amor! Alguém me ajuda!
A primeira coisa foi imaginar que era tudo um pesadelo, mas a verdade estava estampada nos olhos de meus familiares, que não podiam conter o choro. Alucinações, perturbações e medo, muito medo! Mesmo na presença deles, minha dor era tão grande que se tivesse forças me jogava da janela e acabava com tudo de uma só vez, mas como minha vontade ja não se fazia valer, aquela noite foi longa, a tempo de me recordar de todos os momentos felizes e marcantes de minha vida.
Lembro-me que na infância tinha muitas dores nas pernas e que médico algum sabia diagnosticar a causa daquelas dores, ela aparecia sempre à noite e eu só dormia quando meu pai colocava minhas pernas entre as suas e as esquentava. Já minha mãe me acompanhou em meus primeiros dias de aula, ficou ao meu lado durante semanas até que me acostumasse a nova situação. Com meu irmão brincava até tarde na rua com as outras crianças.
Até que comecei a dançar, penso que foi a realização de meus pais. Todo fim de espetáculo estavam lá, os dois, em pé e com os olhos úmidos. Espera! Pra onde estão me levando? Sinto uma forte dor! Porque não me escutam? Esperem! Ainda nem lembrei de meus momentos mais felizes! Meus sonhos, mal pude realizá-los. Nem disse o quanto eu os amo! Não! Tenho que vê-los uma última vez! Só mais uma! Pra onde vou? Espero ficar bem! Por que me olham assim? Não sinto meu corpo. Está tudo escurescendo!

Amanda
Raimundo

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